Momentos tensos na sala de espera da base aérea de Brasília, dia 01/09, 23:30 hs. Silvano e eu esperávamos pela chegada do vôo que trazia duas oncinhas bebês para o NEX.
Quando as vi, não acreditei! Percebi o tamanho da confiança e responsabilidade a nós delegadas pelo Ibama do Pará e o enorme esforço feito, até então, para que não viessem a óbito. Duas irmãs, com menos de 20 dias de nascimento, um trauma enorme pela ausência brusca da mãe e todas as sequelas que isso implica.
O histórico é sempre muito triste mas, pelo menos desta vez, com um final feliz de sobrevivência.
Em uma fazenda da região de Itaituba, PA, uma máquina estava cavando valas e, de repente, viram um filhote de onça pintada no meio da terra levantada. Pararam tudo, acharam o outro filhote coberto de terra e chegaram a pensar que tinham soterrado a mãe.
Procuraram, não encontraram nada e recolheram os filhotes para serem cuidados. Após um dia ou dois, a mãe foi avistada na fazenda. Colocaram os filhotes de volta no local, mas, ela não retornou. Pandora e Vivara foram mantidas com leite de vaca, enquanto o dono da fazenda comunicava o fato do Ibama e aguardava as providências devidas.
O próprio avião da fazenda de origem as levou para a Base Aérea de Serra do Cachimbo e a veterinária Denise Englert cuidou delas acrescentando Support ao leite de vaca, enquanto a bióloga Christina Whiteman cuidava, pessoalmente, dos trâmites burocráticos. A velha correria contra o tempo: vidas não esperam.
Toda essa história passou na minha mente quando as tiramos da caixinha, na Base Aérea, parecendo dois ratinhos, com aquele olhar que sempre marca e impressiona muito: órfãs!
A realidade era muito dura de encarar:não estavam nada bem. Sobreviveriam?
Diante do estado muito vulnerável delas, mudança imediata de planos envolvendo assistência profissional imediata dos veterinários responsáveis técnicos do NEX, Pollyanna Motinha e Thiago Luczinski.
Neste ponto, começa o tema que quero abordar no primeiro post sobre Pandora e Vivara.
Se eu já os admirava como profissionais; se os considerava amigos das onças e meus amigos, posso dizer que foram uma revelação dessas que fazem a gente recuperar a esperança no ser humano!
Levei Pandora e Vivara imediatamente para eles, visto que a desnutrição e desidratação eram evidentes. Cuidaram delas, as estabilizaram e tínhamos uma pressão de tempo para levá-las para o Nex.
No dia 06/09, transportamos as oncinhas para o Nex e minha amiga Catarina Tokatjian nos acompanhou para ajudar no que fosse necessário. Passaríamos os primeiros dias com Pandora e Vivara para ajudar Rogério.
Pandora ainda não pegava direito a mamadeira, dava muito trabalho e mal se alimentava. Meu coração estava muito apertado pois sei que onça tem que querer viver ou nada feito. Pandora ainda piava pela mãe, mostrando que não a tinha esquecido. Pandora não tinha o menor motivo para querer viver.
Sou chamada, carinhosamente por todos, de mãe onça! Talvez porque consiga sentir o que sentem e perceber como expressam sua natureza única. Não pode haver achômetro nisso. Nenhum artigo acadêmico descreve isso. Você nasce assim ou não nasce.
Pandora pesava menos, estava muito fraquinha e seu pior pesadelo era a percepção total da falta da mãe. Vivara, embora vulnerável, já era onça. Se alimentava, mantinha peso e queria viver.
Após alguns dias, desistimos! Era arriscado demais deixá-las na fazenda. Por mais que eu, Catarina e Rogério nos esforçássemos, não ganhavam peso e precisavam de assistência profissional.
Na volta delas para Brasília, Pollyanna passou a ser mãe, 24hs por dia. Thiago, passou a ser pai, substituindo Pollyanna.
Imaginem: Pollyana tem um Petshop com clínica, Thiago trabalha muito, além de dar plantões em hospital veterinário. Sem alarde, assumiram a responsabilidade de manter vivas duas onças pintadas e conseguiram!
Com tudo contra, sem nenhuma ajuda financeira ou patrocínio, uma alimentação caríssima (muitos boletos bancários ainda para vencer), soro, medicamentos e tudo o que se fez necessário, graças à dedicação e amor de Pollyanna e Thiago, Pandora e Vivara vingaram, sobreviveram !
Finalmente, em 02/11, pudemos levá-las para o criadouro, onde o ambiente começou a doar a energia que precisam para se tornarem fortes: terra, sol, ar, água e proximidade com a mata. Pandora e Vivara estão no recinto à prova de Xangô!
Detalhe: alimentação com carne crua, A&D, leite Pet Milk, ração Mother& Babycat, (em vasilhas) para interferirmos o menos possível no seu desenvolvimento !
Ainda farei outros posts sobre as caçulinhas do NEX mas, como disse , este é dedicado à Pollyanna Mottinha e Thiago Luczinski, daqui em diante, meus irmãos de alma e protegidos do grande espírito do JAGUAR, filho do Sol, filho da LUZ!
Pollyanna Motinha , cotidiano de amamentação para Pandora e Vivara
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